Eu já tinha escrito antes sobre certas inflexões e contradições existentes na nossa militância no Piauí. Mas resumindo, a ausência de uma assistência nacional e a falta de uma política de formação de quadros eficaz fez com que a UJC-PI buscasse resolver seus problemas com as próprias mãos. Com isso, colhemos tantos os frutos dos acertos quanto, principalmente e majoritariamente, dos erros.
Aprender com os erros geram
inflexões na práxis. Mas, sem a política de formação concretizada, ainda
existiam diferentes tipos de práxis na organização cuja atuação parecia
concreta apenas na confiança cega de que a pessoa colega camarada seguiria o
famoso centralismo democrático. Todes praticavam o centralismo democrático, mas
tal qual a centopeia, que sempre caminhou normalmente, começa a tropeçar quando
perguntada de como conseguia caminhar com tantos pés, ninguém sabia de fato o
que aquela palavra significava.
Consigo identificar, em minha
opinião, duas alas de interpretação sobre o que era centralismo democrático;
uma formada pela definição e acúmulo das discussões que ocorrera no VIII
Congresso da UJC, outra formada da direção que teve de lidar com os problemas
advindos do crescimento da organização no estado. Essa direção, recolhida em
textos de camaradas africanos, formavam es recrutas em seus núcleos numa visão
mais “à esquerda” do que seria um partido marxista-leninista, mas sem isolar visões
mais “à direita” dentro da organização.
Mas era tudo muito cinza. Foi a
crise que começou a separar a mistura que antes era miscível (mas bem
coloidalmente). Mas todes es camaradas também eram cinzas, pois também foram formados
sobre as teses do VIII ConUJC. A linha era unânime entre todes, a 3ª via; a
crise era superável e deveria ser resolvida pelos intocáveis “meios internos”.
Mas dentro dessa 3ª via existiam diferentes “visões”; algumes acreditavam que o
partido tinha dado uma guinada a direita e deveria reconhecer e fazer uma
autocrítica política que convencesse a base; outres acreditavam que não
havia essa guinada e que, sim, o Partido lidou ruim com a crise, mas es críticos
estavam exagerando nas suas acusações.
O começo das discussões na lista
de e-mails interna essas diferentes visões até que concordavam em vários pontos.
Lembro-me de dois e-mails, um meu e um do camarada Lucas, que basicamente diziam
que rachar seria um trabalho contínuo quebrado e que temos que nos manter nas
críticas e disputar internamente. Esses dois e-mails envelheceram como leite quando
se iniciou as expulsões, as denúncias da BA, as confusões entre RJ-SP.
Da minha parte, relendo meus
textos, me faltavam argumentos para justificar continuar a disputa interna. É que
eu não tinha! Eu acreditava, cegamente, que o Partido iria reconhecer algo, que
iria absorver as críticas; era o que o CRPCB-PI dizia para nós quando questionávamos
certas atitudes da direção. Eu coloquei no Partido meu sustendo subjetivo, emocional.
Acredito que meus camaradas também o fizeram. Criei um vínculo de identidade
com o Partido, afinal, foi nele que conheci os meus atuais melhores amigos, foi
nele que dispendi boa parte de meu tempo e dedicação, e, graças a ele, não era
um fim em mim mesmo. E nisso, falhei com o primeiro texto que li quando me
organizei em 2018... a práxis não me representava, mas a identidade sim, e, priorizei
a última.
Sabem o que acontece quando você
prioriza a identidade quando ela rui? Você quebra, emocionalmente. Eu quebrei
firme. E, acredito que meu principal erro foi deixar que meus camaradas querides
também quebrasse dessa forma. Meu núcleo está praticamente morto até a data que
escrevo esse texto. E eu digo isso com profunda tristeza, pois fui um de seus
fundadores e vi ele fazer diversas atividades que avançaram não só na formação interna,
mas na organização do Movimento Estudantil nas ciências da natureza.
Estou vendo diversos camaradas
adoecendo por causa da crise, outres que ainda continuam, em um conflito doloroso.
Eu simplesmente odeio ver esse sentimento nos camaradas mais próximos e, como
dirigente, não consigo não me sentir responsável. Isso tudo porque insistimos cegamente
nas “estruturas internas” enquanto víamos com nossos próprios olhos como elas estavam
sendo usadas.
Hoje, após sair, e vendo essa situação
de fora, só consigo pensar que deveríamos ter rachado, e cedo. Priorizando
a práxis e a política, ainda teríamos uma ideologia, uma teoria, um
compromisso, e um partido revolucionário. O RR aqui seria criado devido à crise.
Hoje, coberto de desilusão, temo da morte da organização no meu estado e, pior
ainda, que esse sentimento também seja o mesmo de meus camaradas.
De novo, mais uma vez, na
repetição...
erros de direção, erros de
análise, erros de atuação, levaram ao adoecimento de vários.
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